quinta-feira, 13 de março de 2014

O trabalho comunitário e a liderança da mulher multiplicadora

Por Ana Paula S. dos Santos ¹
Agente da Pastoral da Mulher


Dentre as diversas atividades realizadas pela Pastoral da Mulher em Juazeiro BA, apresentamos a experiência social e formativa junto às mulheres em suas comunidades.

O trabalho comunitário parte do convívio em grupo, onde cada mulher tem a condição de cooperar, interagir e partilhar experiências do dia a dia.

O primeiro passo para a experiência de um grupo comunitário é a promoção da fala e da escuta, onde através destas os membros do grupo, neste caso as mulheres, têm a condição de externar suas ideias, opiniões e impressões sobre determinado acontecimento. Sobre essas afirmativas, Duarte afirma que:

À medida que o sujeito vai conhecendo algo, interagindo com o mundo social à sua volta, ele sente vontade de expressar-se sobre as descobertas advindas desse conhecimento. E, ao passo que o objeto é mais estranho para o sujeito ele sente muito mais vontade de fazer uso da palavra para poder conhecer o objeto de estudo.

Toda essa experiência parte da realidade da comunidade e esta é aberta a qualquer mulher interessada. O ponto de partida para a participação consiste também na disponibilidade para a reflexão e para o compartilhamento das próprias vivências.

O desenvolvimento dos trabalhos fundamenta-se numa atitude de abertura à realidade, que permita uma interação fecunda entre os acontecimentos cotidianos partilhados por cada mulher.

A organização do trabalho está sob a direção do próprio grupo, do (a) agente facilitador (a) e da mulher multiplicadora.

Para a Pastoral, a mulher multiplicadora além de representar o grupo, vivencia o processo educativo que promove a articulação e interação entre as demais mulheres, favorecendo dessa forma um movimento de construção do conhecimento a partir das demandas ou necessidades vivenciadas em cada realidade.

A partir dos conhecimentos adquiridos surgem nas comunidades resultados tanto a nível individual como grupal. E o conjunto destes gera um movimento de luta na busca pela melhoria da qualidade de vida das pessoas envolvidas no grupo e seu entorno.

Neste processo, é possível identificar a ampliação da visão crítica, que geralmente parte de temáticas geradoras, contextualizadas com a realidade comunitária, possibilitando a interação, construção e reconstrução de idéias e opiniões.

Observando a realidade dos grupos de mulheres acompanhados pela Pastoral, se constata que apesar da baixa escolaridade e situações de vulnerabilidade social e econômica, as mulheres adquirem conhecimentos que lhe permitem identificar ocorrências de violação dos seus direitos e juntas buscam alternativas para resolução dos problemas encontrados nos locais onde vivem. 

Vale salientar que um dos aspectos fundamentais para o acompanhamento aos grupos diz respeito ao planejamento das ações e a constatação dos seus impactos e resultados.

O planejamento orienta atitudes, posturas e práticas que se desenvolvem no ambiente comunitário, ou seja, orienta a construção da própria realidade do grupo. Permite conhecer e refletir sobre o contexto, avaliando-o para propor novas formas de agir e intervir para atender às necessidades das mulheres e coletividades que o contexto comunitário agrega.

Trazendo como exemplo os encontros comunitários realizados nos bairros periféricos de Juazeiro (Antonio Conselheiro e Itaberaba), fica em evidência que a construção do conhecimento possibilita às mulheres o confronto direto com o objeto ou tema abordado, identificando suas relações internas e externas de causa, efeito e conseqüência.

Com o auxílio do (a) agente facilitador (a) ou orientador (a), o grupo toma conhecimento do tema ou assunto abordado, onde nenhum deve tomar partido de um aprendizado isolado. Os dois, “em comunhão,” devem interagir constantemente em torno do tema e a realidade.

E nessa lógica de pensar, Freire (2003, p.20) faz a seguinte afirmação: “... ensinar não é transmitir conhecimento, nem tampouco amoldar o educando num corpo indeciso e acomodado, mas criar as possibilidades para sua produção ou construção. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.Sendo assim, ao invés de dar o conhecimento pronto para o grupo, mobiliza-o, estimula-o para que ele mesmo possa buscar o conhecimento e refletir sobre o mesmo, construindo dessa forma o seu processo de protagonismo social e político.


REFERÊNCIAS:
DUARTE, Ercílio Ferreira. A mobilização para o conhecimento.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários às práticas educativas. 28ª edição. Editora Paz e Terra. São Paulo, 2003.






[1]Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado da Bahia; Especialista em Gestão de Pessoas pela Faculdade do Noroeste de Minas; atua como Educadora Social na Pastoral da Mulher – Unidade Oblata em Juazeiro.


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