Nos dias 11, 12 e 13 de novembro
de 2015, a cidade de Salvador ficou mais feminina com a realização da 4ª edição
da Conferência Estadual de Política para Mulheres onde reuniram-se 1.051
mulheres, representantes dos 27 territórios do Estado.
Estiveram presentes 1.051 mulheres dos mais diversos seguimentos de organização, sendo do poder público e
sociedade civil. Mulheres organizadas e reunidas para o debate das políticas
públicas implantadas e ainda os desafios que temos que superar
Por falar em nossos avanços e
desafios, conseguimos neste encontro ter um panorama da última década sobre o
que conseguimos alcançar enquanto política pública e o que ainda precisamos
avançar.
Conquistamos muitos direitos
dentre eles a criminalização da violência doméstica, o seguro saúde para
mulheres com câncer, a licença maternidade, a igualdade no matrimonio,
assistência jurídica para mulheres encarceradas, o atendimento a mulheres
vítimas de violência pelo SUS, implantação de secretarias de políticas para
mulheres nos estados e municípios, entre outros.
Segundo Lúcia Bacelar, cientista
política e uma das palestrantes da conferência, conquistamos muitos benefícios
durante esta década, mas ainda não alcançamos avanços em relação a questão do
aborto e direitos relacionados as mulheres LGBT. Mesmo diante das diversidades
de lutas que travamos, sofremos problemas comuns que resultam em relações de
dominação, exploração e opressão.
Também estamos vivendo atualmente
um momento de ameaça às conquistas das mulheres através das reações políticas
apresentadas e resistências, devido a uma agenda neoconservadora e regressiva
de direitos da Câmara que mantém o patriarcado através da força da bancada BBB (bala,
bíblia, boi). Por outro lado, a política brasileira não considera as questões
de gênero e raça. Fala se muito, faz-se pouco. De fato, estamos vivendo
parecidamente com o tempo das trevas onde os direitos conquistados estão sendo
violados.
Outro grande desafio que nos
atinge é o feminicídio onde a taxa de mulheres mortas tem sido crescente, sendo
em maioria como vítimas mulheres jovens. Foram registrados neste ano cerca de
110 mulheres mortas em Salvador, onde 50,3% foram cometidas por familiares. Outro
dado alarmante é que há uma diferença significativa entre mortes de mulheres
brancas e negras. Segundo pesquisas, houve um decréscimo de morte das mulheres
brancas para 9,8%. Porém há um aumento considerável de homicídio das mulheres
negras para 54%.
Como balanço, vê-se que o
movimento de mulheres foi fundamental para a conquista dos direitos femininos
nas esferas da vida social e política. Apesar dos obstáculos acima citados devemos
valorizar a vivencia de uma geração de mulheres informadas, conectadas,
conscientes das desigualdades de gênero. É a época que pode ser chamada de
“Primavera das mulheres”.
Entre estas, outras reflexões
foram feitas como a importância de a mulher inserir-se nos espaços políticos
partidários e de poder onde assim possamos incorporar nossos direitos, afinal a
política deve ser nossa. Contudo não conseguimos entrar, por exemplo, nos
partidos políticos pela grande força da oligarquia masculina. Somente através
de organização, investimento na formação política, recursos para os núcleos de
mulheres, identificando líderes e tendo legitimidade junto à opinião pública é
possível marcar os coletivos de mulheres com suas bandeiras e lutas, na busca
pela conquista d@s eleitores com as ideias que defendemos.
Foi um momento muito significativo
e que nós da Pastoral da Mulher valorizamos de ter participado de mais essa
edição em companhia de uma das mulheres acompanhadas por um dos grupos de
comunidade: Cinara – Grupo Gmel. Ela na sua simplicidade e capacidade de
reflexão sobre sua realidade conviveu durante estes três dias com essa
diversidade feminina e contribuiu muito com este processo como também relatou
que aprendeu. Ainda fomos eleitas para representar a Bahia na edição nacional
que ocorrerá em Brasília, em março de 2016.
E assim retornamos revigoradas
com a sensação de que a luta continua e que não estamos isoladas e continuamos
em marcha até que todas sejamos livres.
Joice Oliveira Ferreira
Educadora social - Pastoral da Mulher/Juazeiro-BA
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