segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Lavagem no Pelourinho marca o Dia da Consciência Negra

O Centro Histórico recebeu, pela oitava vez, a Lavagem da Estátua de ZumbiO Centro Histórico recebeu, pela oitava vez, a Lavagem da Estátua de Zumbi
Foto: Romildo de Jesus
O dia amanheceu com um tempo inadequado para celebrações, mas, para levantar voz de luta contra as opressões, reivindicar a igualdade racial, e a defesa da população negra, não há chuva capaz de barrar o grito de resistência, principalmente na capital com o maior percentual de afro-descendentes do País. Este foi o espírito das comemorações do Dia Nacional da Consciência Negra que tomou as ruas de Salvador no ontem (20).
Para dar início as celebrações, o Centro Histórico recebeu, pela oitava vez, a Lavagem da Estátua de Zumbi dos Palmares, na Praça da Sé. Promovido pela União dos Negros Pela Igualdade (Unegro) e organizações parceiras, a lavagem teve como tema deste ano a expressão “Nenhum direito a menos”, que, segundo os organizadores, é uma forma de intensificar a luta pela igualdade de direitos, em um momento em que as conquistas dos últimos anos se encontram ameaçadas. 
De acordo com a presidente estadual da Unegro, Sirlene Assis, a população negra acumulou forças, e várias bandeiras dos movimentos sociais haviam sido contempladas, principalmente nos dois últimos governos. “Os avanços foram significativos, mas não é revolucionário. O problema é que, na conjuntura em que vivemos há um desmonte de direitos que conquistamos historicamente. Então não chegamos ao topo, e o pouco que temos está sob ameaça”. 
Ela destaca que a população negra, embora seja maioria e esteja na base da pirâmide social, mas, em matéria de dignidade e qualidade de vida, é justamente o inverso. “Salvador, por exemplo, é uma cidade mistificada, temos bairros com IDH alto, que se assemelham aos países europeus, e comunidades com índices que se comparam as regiões mais pobres da África – e esses favelados, são os homens e as mulheres negras”.
O objetivo das intervenções do domingo é justamente convocar a juventude para não deixar que a resistência enfraqueça. O entendimento é de que a expressão negra está presente todos os dias de ano, mas, o dia 20 de novembro, é especial para parar o país, e convocar à reflexão sobre o Brasil que está sendo construído, principalmente no aspecto da desigualdade social. 
Neste aspecto, a transformação do dia 20 de novembro em um feriado no estado da Bahia continua sendo pauta para a Unegro, motivada principalmente por concentrar a maior percentual de habitantes negros numa capital brasileira.
A Unegro nasceu em Salvador em julho de 1988, e atualmente está presente em 24 estados da federação. Os atos do dia 20 também foram liderados pelo movimento em várias outras capitais, a exemplo de São Paulo, Rio de Janeiro e Aracaju. Na capital baiana, mais de vinte entidades participaram das celebrações, além do movimento negro, estiveram presentes associações em defesa das mulheres e da comunidade LGBT. 
A falta de moradia também é um ponto histórico tocado todos os anos nas manifestações do dia. De acordo com a presidente do Movimento Sem-Teto da Bahia, Maria Cristina da Silva, o direito à moradia da população negra é desrespeitado a mais de três séculos. “A Lei de Terra no Brasil vem a galope, e foi feita, sem deixar com que essas pessoas, que trabalharam 300 anos, tenham o direito à moradia, e isso segue”.
O evento também teve o apoio do Governo do Estado, que participou através da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi). “É um dia de alegria, mas também de reflexão para que, cada vez mais a gente siga perseverante na luta contra o racismo e o combate à intolerância religiosa”, destacou a chefe da pasta, Fabya Reis. 
Caminhada e shows na cidade
Após a lavagem, o Dia Nacional da Consciência Negra ainda contou com outras atividades para enaltecer a importância da data. Dentro do projeto Domingo no TCA, Larissa Luz lançou o CD ‘Território Conquistado’, indicado ao Grammy latino na categoria de melhor álbum pop contemporâneo, e lembrou canções de divas do feminismo negro como Nina Simone e Jovelina Pérola Negra.
Já a 16ª Caminhada da Liberdade, realizada pelo Fórum de Entidades Negras, percorreu o trajeto iniciado na Senzala do Barro Preto, no Curuzu, até o Pelourinho durante a tarde. O assunto em destaque foi a ‘Juventude, Tradição, Tecnologia e Perspectivas’. 
Ainda durante o período vespertino, a 37ª Marcha da Consciência Negra Zumbi dos Palmares, que foi organizada pela Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen), saiu do Largo do Campo Grande, apresentando como o tema ‘Malês: uma outra revolta na Década Internacional Afrodescendente 2015-2024’. 
As atividades terminaram no Terreiro de Jesus, às 19h, com um ato da Convergência Negra, que reúne entidades civis da luta antirracista.

Fonte:http://www.tribunadabahia.com.br/2016/11/21/lavagem-no-pelourinho-marca-dia-da-consciencia-negra

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