Ana Paula S.
Santos¹
A
partir da minha experiência educativa com mulheres em contexto de prostituição,
tenho observado nesta realidade certos fatos que merecem atenção especial.
Dentre eles, a questão da promoção da saúde. Nos relatos que ouço das
mulheres, elas expressam distintas situações que sinalizam a falta de cuidado
adequado à saúde, o que resulta em gravidez indesejada, abortos provocados e
ocorrência de infecções sexualmente transmissíveis. Relatam também a
precariedade do serviço público, que promove a falta de credibilidade diante
das necessidades apresentadas por elas, onde afirmam que nos
últimos meses tem faltado com frequência, materiais básicos nos Postos de Saúde,
além da falta de profissionais em determinadas Unidades, especialmente
médicos/as ginecologistas.
Trago
então o tema da saúde sexual e reprodutiva por considerá-lo de grande
relevância para o desenvolvimento de ações que promovam melhoria da qualidade
de vida dessas mulheres.
Falar de
saúde, não é somente associá-la à ausência de doenças, mas é reconhecer a
constante necessidade de um bem-estar físico, mental e social
em todas as questões, inclusive com relação aos direitos sexuais e
reprodutivos. E, diante dessas afirmativas, o presente texto traz como proposta
uma breve análise dessa realidade, principalmente no que se refere ao contexto
da prostituição em Juazeiro/BA.
Tenho
presenciado casos de gravidez indesejada, falta de planejamento familiar, abortos
possivelmente provocados – salientando que esses, para a legislação brasileira
atual, são ilegais, a não ser em caso de estupro e risco de morte para a mãe, e
de anencéfalos a partir de jurisprudência do STF – além da ocorrência de infecções
sexualmente transmissíveis. Tenho visto, portanto, determinadas situações que
sinalizam que as mulheres ainda se encontram em situação de grave
vulnerabilidade, e em muitas das vezes não conseguem ter a garantia de direitos
e acesso ao sistema público de saúde de maneira efetiva.
Destaco
ainda o uso das substâncias psicoativas como elemento bastante presente no
contexto da prostituição. O consumo dessas deixa tanto mulheres como clientes
em situação de incapacidade para a garantia da prevenção no ato da relação
sexual propriamente dita, situação que pode gerar sérias complicações para a
saúde a curto, médio ou longo prazo.
É
impossível, portanto, abordar o tema da prevenção sem levar em consideração as
situações de riscos e de danos.
São
notórios os riscos, onde além das circunstâncias identificadas, existem outras
consideradas indispensáveis à atividade da prostituição, como o consumo de
bebidas alcoólicas, que podem comprometer táticas de prevenção, dificultando
até a negociação do uso de preservativos, principalmente quando a vida da
profissional do sexo envolve outras complexas questões que, atuando
sinergicamente, potencializam ainda mais seu grau de vulnerabilidade. Segundo
Silva (2012, p 17), “percebe-se nesse contexto, um grande desgaste físico, dada
a vulnerabilidade a que as mulheres se encontram expostas. ”
Por
essa razão, exponho tal problemática com o intuito de demonstrar que é urgente
e necessário a efetivação de ações que venham atender diretamente as mulheres
no que diz respeito ao cuidado, orientação e caso necessário, encaminhamentos
para a solução de suas problemáticas. Essas ações necessitam partir da
realidade, voltadas para uma abordagem que contemple o cuidado com a saúde de
maneira integral.
Dessa
forma, podemos concluir que as informações apresentadas deixam em evidência que
o contexto da prostituição não se encontra limitado à comercialização do sexo. Ele
também apresenta outros aspectos que merecem atenção. Neste caso, se faz
necessário uma atuação educativa contínua, que promova processos de construção
do conhecimento para o cuidado consciente da saúde em todos os seus
aspectos.
¹Graduada em Pedagogia
pela Universidade do Estado da Bahia; atua como educadora social na Pastoral da
Mulher – Unidade Oblata em Juazeiro/BA. Especialista em Gestão de Políticas
Públicas em Gênero e Raça pela Universidade Federal da Bahia.
Referências:
SANTOS.
Ana Paula Silva dos. Projeto de saúde e
prevenção para mulheres em situação de prostituição, 2015. Disponível em: http://repositorio.ufba.br/ri/handle/ri/30635 Acesso em 13 de
setembro de 2019.
SILVA,
Fernanda Priscila Alves da. Cuidado
junto às mulheres em situação de prostituição: processos pedagógicos e
transformação social. São Bernardo do Campo: Nhanduti Editora, 2012.
Fonte: Pastoral da Mulher
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