Mais de cem mil mulheres ocuparam
as ruas de Brasília, nesta quarta (14), durante a 6°.edição da Marcha das
Margaridas. Num encontro simbólico, milhares de mulheres camponesas, sem
terras, quilombolas, pescadoras, ribeirinhas e oriundas de diversos povos e
comunidades tradicionais tomaram a capital federal, unindo-se às indígenas que
participavam da I Marcha das Mulheres Indígenas.
Sob o tema “Margaridas na luta
por um Brasil com Soberania Popular, Democracia, Justiça, Igualdade e Livre de
Violência”, mulheres do campo, das águas e das florestas, vindas de todos os
estados do Brasil, uniram-se para denunciar o desmonte de direitos promovido
pelo governo de Jair Bolsonaro e reafirmaram seu protagonismo na luta por
direitos sociais.
A manifestação percorreu o Eixo
Monumental e foi até a Praça dos Três Poderes, ocupando toda a extensão da
Esplanada dos Ministérios. Com a enorme quantidade de manifestantes, a marcha,
que iniciou em torno das sete horas da manhã, levou até perto do meio-dia para
que todas as mulheres concluíssem o trajeto.
Foi divulgada uma Plataforma
Política na qual são identificadas as pautas, motivações e proposições da
Marcha das Margaridas, entre as quais se destacam a defesa de uma “reforma
agrária ampla, massiva e de qualidade”, a luta contra a proposta de Reforma da
Previdência do governo Bolsonaro, que atualmente tramita no Senado, e a defesa
de um “projeto de sociedade enraizado em princípios feministas”.
As mulheres da Marcha também
defendem o “reconhecimento, valorização e fortalecimento da agricultura
familiar e dos territórios como espaço de vida”, a autonomia dos povos
indígenas e das comunidades tradicionais. Por outro lado, denunciam as
políticas de desmonte do Estado e das políticas sociais herdadas do governo de
Michel Temer e aprofundadas pelo governo Bolsonaro.
“As Margaridas entendem que não
dá para negociar com esse governo que retira o direito da classe trabalhadora.
Aqui, nessa plataforma construída com várias discussões, está o desejo das
trabalhadoras rurais em dizerem o modelo de sociedade que queremos construir”,
afirmou a coordenadora da Marcha das Margaridas, Mazé Morais, da Confederação
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), durante o ato de abertura
da atividade.
“É momento de luta, resistência,
mas também de proposição, em que queremos construir uma sociedade livre de
violências contra as mulheres do campo, indígenas e negras”, explica Mazé.
Encontro de marchas
Mulheres indígenas de mais de cem
povos viajaram das diversas regiões do país até Brasília, para participar da I
Marcha das Mulheres Indígenas. As atividades da mobilização iniciaram-se na
sexta-feira (9) e seguiram essa quarta-feira (14), reunindo mais de três mil indígenas.
Na segunda-feira, as mulheres
indígenas ocuparam a sede da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai),
denunciando as tentativas de desmonte do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena
(Sasi-SUS), que garante a atenção básica diferenciada aos povos originários e
sua participação social na elaboração das políticas de saúde.
Em uma nota, a Marcha das
Mulheres Indígenas também denunciou a Medida Provisória (MP) 890, que foi
editada por Bolsonaro em 1º de agosto e traz, embutida, a possibilidade de
desmantelamento da saúde indígena por meio de sua abertura ao mercado privado.
Na terça-feira (13), as mulheres indígenas
realizaram sua própria marcha, ao final da qual juntaram-se aos manifestantes
que, em Brasília, lutavam contra os cortes na educação pública. Hoje, finalmente,
juntaram-se à Marcha das Margaridas, num momento celebrado com a pintura do
urucum.
“Estar aqui em Brasília foi um
momento, não apenas simbólico, foi significativo por que tem significado
histórico e político. Histórico para entender que a miscigenação do Brasil não
foi pacífica e que nossas mulheres indígenas foram, sim, estupradas, e que todo
processo de colonização atinge diretamente os corpos das mulheres indígenas.
Estar aqui e fazer frente a essa denúncia do genocídio, do etnocídio que é a matança
da nossa identidade, do ecocídio que é a matança da mãe, mas não exatamente só
a nossa mãe porque o território também é avó”, afirma a liderança Célia
Xakriabá.
Ao final da marcha conjunta, as
indígenas partiram para a sua assembleia final, na qual elaboraram um documento
avaliando a marcha e apontando caminhos para a continuidade da luta em defesa
de seus territórios e seus projetos de futuro.
“O corpo das mulheres indígenas
tem sido a trincheira que impede a invasão dos territórios. E negar nosso
território é negar, principalmente nosso modo de vida. Nós vamos continuar
marchando os 365 dias, porque mesmo sendo a primeira vez em Brasília, nós
mulheres sempre estivemos em movimento na luta pelo território”, conclui a
Xakriabá.
Nenhum comentário:
Postar um comentário