A Pastoral da Mulher - Rede Oblata - completou 41 anos de trabalho oblata em Juazeiro da Bahia e, nesses dias de comemoração, vivemos uma certa nostalgia em relação à caminhada do
projeto. Revivemos nossa história através de fotos e relatos, de conversas com
as mulheres.
De maneira carinhosa, trazemos
aqui um breve bate-papo com Maria das Neves, Educadora Social que atua há aproximadamente 30 anos na Pastoral da Mulher. Possui vínculo desde a época da
Escola Senhor do Bonfim, quando existia uma creche para as mulheres deixarem
seus filhos.
O que é “ser” Pastoral da Mulher para você?
“É ter esse compromisso com a causa tanto do social como da mulher que
exerce a prostituição. É ter o carisma oblata, é doação, é usar esse anel
(tucum) de compromisso. Pra mim é um compromisso esses quase 30 anos de
Pastoral. Quando estou em casa eu não me desligo. Separo a vida do cotidiano
comum, mas o amor e a oblação já existem dentro da minha espiritualidade, da
minha vivência, do meu convívio familiar. Unidade Oblata, família oblata. “
O que você poderia destacar em quase 30 anos de trabalho junto à instituição?
“Destaco em todos esses anos a forma de acolher as mulheres que chegam
até a Pastoral. É uma marca do carisma oblata a questão do atendimento e
acolhimento. Todas as pessoas que chegam até nossa unidade incorporam e pegam
esse jeito carinhoso, respeitador, de gratidão em receber a mulher e também
todas as outras pessoas como parceiros e voluntários que chegam até a sede. ”
Hoje, algumas mulheres atendidas eram crianças, filhas das mulheres
assistidas na época da creche. Qual a sua sensação diante deste fato?
“Me entristeço por vê-las na prostituição. Gostaria que estivessem em
outra condição social. Mas sinto uma felicidade muito grande quando outras
mulheres que foram crianças atendidas pela creche e que não estão nesse meio,
me encontram na rua e me reconhecem. Talvez para algumas pessoas pode ser
questão de envelhecimento, mas pra mim é amadurecimento e a sensação é de felicidade
quando elas relatam que lembram de mim na creche. ”
Em meados de 2007, as Irmãs Oblatas partiram para missões em outros
locais e confiaram o trabalho nas mãos dos leigos, certas de que o carisma oblata estava presente. O que dizer disso?
“Foi uma responsabilidade muito grande quando as irmãs entregaram o
projeto aos leigos. Vejo como um reconhecimento à capacidade de outras pessoas
conduzirem o trabalho em Juazeiro sem a presença delas, mas ficou a sensação da
falta e da proximidade com elas. É tanto que sentimos a necessidade de alguma
delas vir ao menos uma vez ao ano em Juazeiro. “
Algum caso ou história que lhe foi muito tocante nesses anos de
trabalho?
“São muitos casos, mas logo no início de minha caminhada pastoral
encontrávamos uma mulher atendida bêbada e caída na rua. Era preciso trazê-la
pra sede pra favorecer um banho e cuidar dela. “
Mas por que lhe marcou muito encontrar essa mulher embriagada?
“Era por causa da condição em que aquele ser humano se encontrava
naquele momento. Então o que a gente podia fazer de melhor pra ela a gente
fazia. Tivemos zelo, acho que é isso que nos encoraja pra ficar na caminhada.
Até hoje tenho muito carinho com essa pessoa de maneira especial. “
Poderia dizer algo às pessoas que não conhecem o nosso trabalho?
“Se sensibilizem com a causa. Eu acredito que a sociedade ainda tem
muito preconceito, mas por que? Porque não conhecem a causa e nem a vida da
mulher em situação de prostituição. Quando quebrarmos esses paradigmas, a
sociedade vai compreender bem melhor o porquê de a mulher ir para a
prostituição. “
Nesta nossa celebração de 41 anos de caminhada, qual recado você deixa
às mulheres?
“Sou grata em recebê-las e agradeço por elas fazerem parte desta linda
história, por fazerem parte da caminhada da Pastoral da Mulher. Meu carinho e
gratidão a todas e um fraterno abraço. “
Nevinha, nossa equipe e, principalmente as mulheres, agradecem por todos esses anos de dedicação ao
trabalho. Que a cada dia o seu caminhar seja fortalecido em meio aos discursos
de alegrias e conquistas, outros de aflição e algumas histórias comoventes, das
quais, mesmo com o passar do tempo, ainda provocam descompasso ao coração.
Que Madre Antonia a inspire e que
seu abraço seja cada vez mais acolhedor para aquelas que nos buscam.
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